quarta-feira, 17 de setembro de 2008

“Quem comprou casa há quatro anos não vai ganhar dinheiro”

Entrevista a Manuel Alvarez, Presidente Executivo da Remax em Portugal

A crise do ‘subprime’ está a começar a fazer os primeiros estragos em Portugal. Com os bancos a restringir cada vez mais os créditos, o mercado da habitação começa a ressentir-se.


Ana Baptista - in Diário Económico online

Só compra casa quem tiver liquidez e até tem sorte porque acaba por comprar a preços mais baixos. Isto porque quem está a vender não tem outra hipótese senão baixar os preços. É o caso de Miraflores onde há tanta oferta que é possível para negociar preços. Mas como a lógica do imobiliário é, muitas das vezes, a falta de lógica, há zonas em que nada disto se aplica, como em Lisboa, onde os preços não baixam. Pelo contrário tendem a subir. 

Esta é uma boa altura para comprar ou para vender casa?
Para comprar sem dúvida, porque há preços mais baixos, mas também terão de ser pessoas com disponibilidade financeira que não precisem de recorrer ao crédito bancário ou um investidor. Vender depende das circunstâncias em que a casa foi comprada. Quem comprou há quatro anos não vai certamente ganhar dinheiro. O que acredito é que é um bom momento para trocar de casa porque pode fazer-se por menos dinheiro. 

Mas porquê?
Dou-lhe um exemplo. Imaginemos que quero comprar uma casa hoje, em 2008, e preciso de vender a minha. Em 2001 a casa que queria comprar custava 200 mil euros, mas hoje já desvalaorizou e custa 160 mil euros. A que quero vender custou-me, em 2001, 150 mil euros, mas agora já custa 120 mil. Isto significa que, neste caso, a diferença entre a casa que quero comprar e a que quero vender é hoje de 40 mil euros quando há seis anos era de 50 mil euros.  

O arrendamento é uma hipótese em vez da venda?
O arrendamento está a crescer. Já sentimos mais pessoas à procura de casas para arrendar no ano passado, e ainda mais este ano, mas faltam imóveis nesse ramo. Devia haver um mercado de investidores que compre para arrendar, mas há sempre o medo de que não se paguem as rendas. 

Isso nota-se na empresa que gere?
Sim, bastante. Em 2007, os negócios de arrendamento na Remax cresceram mais 12% do que os negócios das vendas, ou seja, 47% das transacções são de imóveis arrendados e 35% foram de vendas. 

Os preços estão a baixar de forma significativa?
No mercado de usados, desde 2001 que os preços sofrem ligeiras alterações, mas depende muito das zonas. Por exemplo, na linha de Sintra, os preços desceram 7% entre 2001 e 2007, mas em Lisboa subiram 1% no mesmo período. Nas construções novas, os preços não baixam porque os promotores preferem esperar a vender mais barato. esta é uma característica muito portuguesa. Com um privado, que é a maioria do nosso negócio, se existe uma grande necessidade de vender, então tem de baixar o preço. 

Sem comentários: